Leia mais: A ‘Loucura’ de Deus

INTRODUÇÃO

          “Inclinado sobre os seus joelhos, a mão segurava firmemente o pequeno animal. O sangue escorria por suas mãos e num profundo e angustiado clamor olhou para os céus. O que antes se mostrava tão claro e perfeito, agora parecia denso e escuro. 

          Uma tristeza profunda e um grande senso de impotência encheu seu ser. Lágrimas quentes escorreram pela sua face e uma dor lancinante como seta aguda penetrou seu coração. Apertou o pequeno cordeiro sem vida junto ao seu peito e chorou copiosamente. 

          Chorou por si, pelo seu terrível engano. Chorou por aquela que tanto amava e que estava prostrada ao seu lado sem coragem de olhar a cena que se desenrolava. Chorou por aquilo que aquele ato significava. Chorou porque aquele pequeno animal sem vida simbolizava a oferta que seu mais chegado e amado Amigo faria para salvar a sua vida. 

          Chorou amargamente. Nunca tivera tal sentimento de angústia e dor. Nunca experimentara tal sensação e sentia que essa seria uma companheira ao longo da vida que lhe restava. (Referência a Gênesis 3)

          Não havia mensurado a sua atitude e jamais conseguiria entender a que ponto chegaria a sua decisão de desonrar o compromisso que fizera com seu Amado Amigo. 

          Uma nova palavra foi incorporada ao seu vocabulário: pecado. 

          Não podia imaginar o que ele faria ao belo mundo que recebera das mãos de seu Criador. Não podia imaginar o que em seis mil anos ele faria a essa terra e aos seus próprios descendentes. Não conseguia aceitar que seu Amado Criador tivesse que dar Sua vida por ele.

          Adão se debruçou sobre seu próprio corpo e implorou a Deus que ele fosse deixado a sofrer as consequências de suas próprias atitudes, mas que o Filho de Deus não tivesse que sofrer em seu lugar. Não podia suportar a dor de ver quem O amava, e a quem ele tanto amava também, fazer tal sacrifício. Não lhe parecia justo tal atitude.

          E não era. 

          Mas também entendeu que se não fosse assim ele jamais veria a face amorosa de seu Criador novamente. Compreendeu que essa decisão, que partira do próprio Filho, fora tomada pelo profundo amor que Este sentia por ele e por sua mulher. Não poderia renegar tal oferecimento de amor. Suplicou dolorosamente que o perdoasse e que o ajudasse a ser melhor. Seu coração estava despedaçado. Abraçou a sua esposa e ambos choraram, não a sua sorte, mas a Daquele que se despojaria da divindade e se oferecia para ser igual a eles e sofrer toda a penalidade do pecado, da transgressão da lei, e cumprisse a pena final: “Pois o salário do pecado é a morte…” (Romanos 6:23 – 1ª p). 

          “Ele morreria a mais cruel das mortes, suspenso entre o céu e a terra, como um pecador criminoso; que sofreria terríveis horas de agonia, com que o sofrimento físico de nenhuma maneira se poderia comparar. O peso dos pecados do mundo inteiro estaria sobre Ele.” (White, 1991, p. 43) 

          Ele se colocaria no lugar que à humanidade era reservado porque a amava e queria que estivesse novamente junto a si. E assim se cumpriria a segunda parte dessa triste história que, por causa do grande amor divino, se tornaria em alegria e regozijo: “… mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, em Cristo Jesus nosso Senhor.” (Romanos 6:23 – 2ª p).

          E “o Verbo se fez carne, e habitou entre nós. Vimos a sua glória como do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.” (João 1:14) “Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos.” (Gálatas 4:4,5) 

          “O povo que andava em trevas, viu uma grande luz; sobre os que habitam na região da sombra da morte resplandeceu a luz. … Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o principado está sobre os seus ombros, e o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz. Do aumento do seu governo e paz não haverá fim…” (Isaías 9:2,6,7) “Todo vale se encherá, e se abaixará todo monte e outeiro. O que é tortuoso se endireitará, e os caminhos escabrosos se aplanarão. E toda humanidade verá a salvação de Deus.” (Lucas 3:5,6)

          O que a Serpente (Satanás) se propusera a destruir, o Filho de Deus se propunha a reconstruir.

          “O cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1:29) chegara para cumprir sua missão. Quatro mil anos antes fizera a promessa ao primeiro homem de que feriria a cabeça da serpente (Gênesis 3:15) e viera para cumpri-la.

          O mundo jamais seria o mesmo. O próprio Deus na forma humana andaria por essas paragens. Sua mão estaria estendida aos desafortunados, aos marginalizados, aos sofredores, aos que buscam luz, aos que não tem a paz, aos pequenos e também aos grandes, aos que O buscam: “Pois aquele que pede, recebe; o que busca, encontra; e ao que bate, se abre.” (Mateus 7:8) 

          A Sua voz soaria clara e sonora: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me para apregoar liberdade aos cativos, dar vista aos cegos, pôr em liberdade os oprimidos, e anunciar o ano aceitável do Senhor.” (Lucas 4:18) 

          Praticamente em todas as nações, os tempos seriam divididos em antes de Cristo (a.C.) e depois de Cristo (d.C.). O EU SOU que falara a Moisés no deserto viera trazer o reino de Deus aos homens e convidá-los a fazer parte desse reino.

           Jamais a humanidade sentiria Deus tão próximo a ela! A Palavra de Deus se cumpria na forma mais profunda e completa jamais vista antes: o Evangelho entre os homens. 

          O planeta terra receberia o seu Criador, mas não O aceitaria: “Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam.” “Nele estava a vida, a vida era a luz dos homens. A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram sobre ela.” (João 1:11,4,5) Como homem Ele andaria entre os homens e como homem sentiria as dores do homem, mas não deixaria de ser Deus, pois essa era a Sua natureza. 

          Talvez a humanidade esperasse um rei com toda a sua majestade, um general com toda a sua coragem, um homem que permanecesse entre ela e morresse como ela. No entanto, receberam o Rei de reis e Senhor de senhores, mas não puderam ver quem era, pois estavam cegados pelas coisas desse mundo. “Então veio Cristo, a fim de restaurar no homem a imagem de seu Criador. Ninguém, senão Cristo, pode remodelar o caráter arruinado pelo pecado. Veio para expelir os demônios que haviam dominado a vontade. Veio para nos erguer do pó, reformar o caráter manchado, segundo o modelo de Seu divino caráter, embelezando-o com Sua própria glória.” (White, 1988, p. 34)

          Sim, era isso que o mundo necessitava. Um homem-Deus, um Deus-homem que é capaz de mudar completamente os que a Ele se chegam. 

          E o Seu convite é: “Vinde a mim TODOS” (Mateus 11:28).”