Leia mais: No Deserto da Vida

 “O cansado homem para, apoia-se em seu cajado e leva a mão ao rosto para enxugar as gotas de suor que teimam em escorrer pela sua face. Olha para o céu. A luz do sol cega-o por instantes. Parece um braseiro incandescente. À sua frente, areia, pedras…. Ao seu redor a mesma paisagem e uma árvore seca aqui e acolá. Uma ou outra vegetação insiste em permanecer apesar do calor, mas sua cor é de um verde marrom. Sente-se desanimado. A vontade é de parar ali mesmo e esperar sua sorte, mas ao redor de si estão as suas ovelhas. Elas dependem dele totalmente. Não pode parar. Precisa encontrar água e um lugar seguro. É seu dever continuar.

          Seus passos se arrastam lentamente pela areia fina e cheia de pedregulhos. O balido de suas ovelhas e a marcha pela areia são os únicos sons ouvidos. Sua mente se volta para a sua trajetória até ali. Fora alguém importante e muito respeitado, porém, quem era agora? Um simples pastor de ovelhas. Sua vida mudara completamente.

       Havia vivido quase todos os seus primeiros 40 anos de vida junto ao luxo e ócio de uma vida palaciana. Obtivera seu conhecimento acadêmico dos melhores mestres do seu tempo. Aprendera outras línguas. Era respeitado por sua desenvoltura e inteligência e admirado por muitos, mas também odiado por alguns que lhe tinham inveja. Honras e mimos o haviam cercado. Tinha tudo que um homem podia desejar. Será, mesmo?

         Sua trajetória de sucessos o marcava para um futuro ainda mais brilhante. O que poderia alcançar? Quem sabe uma promissora carreira militar? Uma carreira política bem-sucedida? Um chefe de estado? Ou quem sabe o governante de seu país? Sentia que esse era o desejo de sua mãe adotiva. Ela confiava em seu talento e força. Para isso o preparara. Mas ele era um estrangeiro ali naquele país e ainda filho ilegítimo, isso, com certeza, tinha sido um grande empecilho.

         Uma pedra entra em sua sandália o que o faz parar. Abaixa-se e tira a pedra. É pequena, mas como incomoda! Isso o faz pensar: “Estou me lamuriando novamente. Achando-me um pobre coitado diante de minha sorte. Obrigado, pedrinha por ter me acordado para isso!” 

          Parece que encontram um lugar para descansar. Há sombra e água para as ovelhas e para si. Isso é maravilhoso! Todos parecem gostar do achado e descansam, como e onde podem.

          Moisés recosta-se a uma gostosa sombra e olha para as suas ovelhas. Elas confiam em sua direção e cuidado. Sabem que ele as levará para um lugar seguro e as protegerá pelo caminho. Enquanto ele está por perto se sentem seguras. Seu pastor jamais as deixará. Quanta responsabilidade! Mas também, quanta alegria por poder ajudá-las e guiá-las! 

          Elas não parecem preocupadas se haverá água na próxima parada, se encontrarão pasto ou um lugar para passar a noite. Seu pastor está ali e isto basta para elas. 

          Moisés pensa em si mesmo e nas suas lutas. Ele também tem um Pastor. Por que não lhe é fácil assim, confiar? Por que tudo parece tão difícil, muitas vezes? Por que não consegue, simplesmente descansar à sombra do seu poderoso Pastor? Ele lhe dá tantas evidências do Seu terno cuidado!

          Temos também um deserto a transpor em nossa jornada pela vida. A maneira como o olhamos e como caminhamos por ele nos fará pessoas diferentes. Mas para isso teremos que sentir a areia quente sob nossas sandálias, o sol abrasador sobre nossas cabeças, o frio da noite, a solidão e o desejo de companhia, as pedrinhas, a necessidade de sombra e água, o desejo de proteção, reconhecer quando estamos perdidos, para então chegarmos aos pastos verdejantes do outro lado do deserto.